domingo, 20 de dezembro de 2009
domingo, 27 de setembro de 2009
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Isabela
Nosso primeiro encontro havia acontecido há alguns dias atrás. Um amigo meu apontou pra ela, olha que estranha, disse, é famosa aqui na rua. Ela tinha cabelos longos e usava uma pantufa nos pés, como alguém que saiu de casa pra ir na padaria ao lado e esqueceu de pôr os sapatos. Observei de longe que ela pedia alguma coisa pra todas as pessoas que cruzavam por ela na calçada. Meu amigo disse que pedia cigarros. Ela desapareceu junto com o início da noite e eu fui pra casa sem pensar nela. Na semana seguinte a vi de novo. Estava perto de mim enquanto eu saía da padaria com um maço de cigarros recém comprado no bolso. Ela veio em minha direção e pediu um cigarro. Eu disse que não tinha. O maço no meu bolso pesou mais que o habitual, talvez um reflexo da minha consciência mentirosa. Ela saiu e foi procurar outra pessoa que pudesse alimentar seu vício. Eu havia sido descartado. Percebi que conseguiu um cigarro de um homem qualquer, mas não fumou. Guardou em sua bolsa e continuou na batalha por mais alguns. Até que a perdi de vista.
Os dias foram passando e eu pensava nela às vezes. Imaginava onde morava, como era sua vida, se tinha família, um cachorro, amigos ou qualquer pessoa que pudesse compreender suas vontades. Imaginei ela chegando em casa e derramando um punhado de cigarros em cima de uma mesa suja, um sorriso no rosto festejando o sucesso do dia. Ela tirava as pantufas dos pés, pegava uma caixa de fósforos e começava a se divertir com seus prováveis únicos companheiros noturnos. Depois de treze ou quatorze cigarros apodrecendo no cinzeiro, ela dormia pra acordar disposta no dia seguinte e continuar sua corrida. Completamente nova, feliz, objetiva. Não lhe faltavam certezas, ela era aquilo e aquilo era seu mundo.
Segunda-feira, oito horas da manhã, saí de casa correndo e vi ela lá, pedindo, por favor, um cigarro. Passei reto, com um maço fechado no bolso, do outro lado da rua, fingindo que não conhecia, fingindo que não fazia diferença. Ela ficou na minha cabeça pelo resto do dia. Sempre que eu ia acender um cigarro pensava naquela figura que não era humana, que não era mulher, que não era nada. Que me intrigava e que me fazia compreender qualquer busca por objetivo que fazia falta dentro de mim. Ela precisava só de cigarros, eu precisava de tudo e mesmo assim não me sentia completo. Eu deveria era me tornar um andarilho, entrar para o clã dela, andar por aí mendigando um pedaço de satisfação que pudesse preencher meus dias, minhas noites, meus espaços. Ela tinha tudo isso, ela usava pantufas e roupas ridículas, ela era ridícula, mas mesmo assim parecia feliz, mais completa a cada cigarro enquanto eu perambulava pelos corredores de uma empresa exploradora, sorrindo pra pessoas que desgostava, sem saber onde encontrar meu fim.
No dia em que a vi se encarando no vidro do carro pensei em abortá-la, pedir a ela que me ensine, que me acorde, que me diga onde consegue achar tudo que eu não consigo encontrar. Pedir que me mostre como pode enganar sua solidão com apenas alguns cigarros vagabundos. Eu queria. Queria mesmo, sabe. Quando tinha treze anos ganhei um computador. Fiquei feliz nas primeiras horas, depois disso veio o tédio, o conforto, a chatice, já queria mais e quando tinha, continuava querendo. Quero ser simples. Quero querer o simples. Botar na fogueira toda essa high tech, esse entretenimento barato, essa porra de quadrado eletrônico que eu nem sei pra quê serve, rasgar minhas roupas, arrancar meus cabelos, colocar fogo na imagem que eu criei pra me proteger. Comecei a caminhar em direção a ela, que continuava contemplando a mulher que já não lembrava mais existir, orgulhando-se de ter abandonado as pantufas e encontrado uma vaidade desconhecida. Meus passos foram ganhando velocidade enquanto ela continuava ali, imóvel, abismada, hipnotizada na frente do reflexo no vidro do carro, trancada como narciso dentro de si próprio, eu não queria perdê-la, acelerei os passos e parei diante dela, ofegante. Ela nem me olhou. Eu tirei do bolso um maço de cigarros que tinha comprado na noite passada. Ela olhou pra minha mão estendida e me encarou nos olhos, voltando a focar no maço em cima da minha palma aberta. Eu lhe lancei um olhar de generosidade e aproximei minha mão da mão dela, sem falar nada, um momento que não precisava de mais nenhum barulho a não ser o silêncio gritante que pairava ao redor. Sua mão foi vindo em direção à minha, o meu coração palpitando mais forte e a testa começando a suar. Ela hesitou. Recuou. Desistiu, não sei, talvez já havia desacreditado na generosidade humana. Pega logo, eu pensava. Ela ficou imóvel. Alguém saiu da padaria ali perto e chamou por Isabela. Ela virou rápido e um homem de terno surrado e chapéu cinza a observava, com uma sacola de plástico na mão recheada de pães. Chamou de novo. Ela olhou pro maço de cigarros ainda estendido na minha mão, abriu seus lábios e projetou sua voz para que eu pudesse escutar um não, obrigado. A mulher saiu caminhando desajeitada naqueles sapatos velhos e deu a mão esquerda para o homem do chapéu, lançou um último olhar de pena para mim e seguiu caminhando com ele, os dois estranhos assim, completos, únicos, preenchidos. A piedade dela entrou como uma lança quente no meu coração frio. Doeu. Fiquei pelo menos cinco minutos parado ali, imóvel, sozinho, triste. Sentei no cordão da calçada, abri o maço de cigarros que ela havia recusado, risquei um fósforo e comecei a fumar. Isabela. Não sei quanto tempo fiquei ali. Levantei a cabeça que estava encostada nos joelhos dobrados e vi o maço vazio, jogado no chão. Decidi ir embora pra casa. Derrotado. Vazio como o maço. Precisando acordar em um novo dia pra poder encher ele de novo, ser mais novo, mais humano. Preenchido como havia conseguido ser Isabela.
*essa mulher realmente existe, vive perambulando pela minha rua à procura de cigarros. eu sempre neguei. sei lá, medo, pena, egoísmo. ela ainda não trocou as roupas e nem passou blush nas bochechas. eu nem sei seu nome. mas ela me intriga.
domingo, 20 de setembro de 2009
Ponto
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Semana
*não gosto muito desse, mas quis dar uma atualizada enquanto não acabo um que tá ficando bom. beijos.
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
É Crédito
*adoro rotina com correria. e que bom que a chuva ta parando! beijos.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Não quero anjos
Ela apontou a arma pro peito, suspirou pela suposta última vez e aguardou anjos que nunca vieram. Ela não soube disparar, força, destino, não sei. Ela não soube. Ela queria ficar. Não queria, mas devia. Chorou. Saiu do lugar, foi pra casa e fez as malas. Ia pro norte. Pegou o primeiro ônibus, chorou. Conheceu um empresário, apaixonou, casou, ele morreu, ela herdou. Enriqueceu. Teve tudo que queria. Mas não foi feliz. Percebeu que isso não era pra ela, nem pra qualquer um, ser feliz é coisa de gente escolhida a dedo, concluiu. E decidiu partir. E partiu. E conseguiu tudo o que sempre quis: ser coisa alguma.
*cansado e energizado, em dúvida, feliz e triste. não sei também. que venha o futuro, destino ou seja lá que nome dão pra tudo o que vêm pela frente. beijos e um final de semana cheio de espasmos felizes.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Clã
*nao sei, nao sei.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Tele-bafo
*é ficção, sou educado, ok? beijos.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Café-da-manhã
*independência o caralho.
domingo, 6 de setembro de 2009
Desaniversário
- Surpreeesa!
*tô indo pra um aniversário. mas não é surpresa. uma vez fizeram uma festa surpresa pra mim, mas eu não curti. na verdade, eu nunca gostei muito do dia do meu aniversário... beijos.
sábado, 5 de setembro de 2009
Destí.
Hang Out-Over
- Oi. Tá afim de ir beber uma cerveja? – 7 segundos de silêncio – Tá aí? Vamos beber umazinha?
- Tá, vou colocar uma calça e já passo aí. Beijos.
Todos os dias.
*Nem todos. Tô bem!
- Oi. Tá afim de ir beber uma cerveja? – 7 segundos de silêncio – Tá aí? Vamos beber umazinha?
- Tá, vou colocar uma calça e já passo aí. Beijos.
Todos os dias.
*Nem todos. Tô bem!
**Faz um tempão que escrevi isso, nem lembro quando foi. Mas achei bonitinho e resolvi publicar.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Torpedo
E, estranhamente, foi nessa noitada, que conheceu o amor de sua vida. Quarenta e cinco anos de casados, até que ele morreu de parada cardíaca. Ela, de velhice. Nada mudou, mas tudo foi diferente.
*será que alguém lê isso aqui? ou pior, será que algué gosta? hehe. beijos pra mim, então.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Descontínuo
*Na última noite também dei uma sonambulada e derrubei o ventilador no chão. Tsc tsc.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Guerra
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado
*óbvio que sou dramático. mas quem não é?
domingo, 30 de agosto de 2009
Domingo
*nem sei se alguem le isso aqui, mas, mesmo assim, sorry pela ausencia de postagens. me mudei. vida tomando seu rumo, enfim. beijos e uma semana diferente das outras.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Páginas
- Não, não romance de amor. Romance de história, de capítulos, daquelas que te prendem, sabe? Desculpa, senhor vendedor, jamais quis te chamar de ignorante, só expliquei melhor, sabe, às vezes eu falo coisas que as pessoas não entendem, daí já explico logo de cara, pra não gerar tumulto. Eu sei que eu devia ter pegado referência de alguém, devia ter pesquisado na lista dos “cem mais” de qualquer sitezinho metido à cult. Mas não, eu preferi vir aqui, em pessoa, confiar em ti, saber o que tu tem pra me indicar, que me faça sair do chão nas primeiras e segundas páginas, que me faça perder o ar vislumbrando um mundo diferente desse meu aqui, um mundo onde eu não possa tocar em nada, mas sentir, de letra em letra, qualquer emoção que sugue meus pensamentos pra longe dos problemas cotidianos. Esse não, eu sei que é best seller, mas eu não gostei da capa, já te aviso, sou chato pra isso, quando eu não gosto da capa não tem cristo que consiga me fazer entrar de cabeça em algo. Com pessoas é meio que assim também, né? Dizem que a primeira impressão é a que conta, eu acredito nisso, sempre acreditei que quando encontrar o amor da minha vida eu vou sentir na hora que é o amor-da-minha-vida-forever-and-ever. Ok, eu ando lendo muita fantasia, vendo muita ficção na tevê, mas me entende, por favor, senhor vendedor, eu vim aqui com a mais pura das intenções simplesmente pra que tu possa me dar algo que me distraia durante esse dia chato, que me consuma durante semanas e semanas, que possa simplesmente me fazer companhia. É triste ficar sozinho, né? Eu não gosto, sabe, quando me sinto muito sozinho eu vou pro parque conversar telepaticamente com gente que nunca vi na vida. Mas às vezes isso também cansa, daí eu preciso encontrar alguém na Internet que possa me ocupar por algumas horas com conversas fiadas do tipo “o que tu faz da vida?”. O problema é que eu me jogo de cara, se eu gosto da foto, é claro, mas daí já vou contando todos os meus problemas familiares e de relacionamento e de vida sozinha e de morar sozinho e de ser só eu no meio de um monte de gente perdida. Tu também deve ter problemas, né? Ah, vai, me conta, todo mundo tem algum, deixa eu pensar, ou tu é divorciado, ou trai tua esposa, ou é traído, ou é órfão, ou maconheiro paranóico, ou tem TOC, ou não consegue perder a barriga desde os treze anos. Já ficou impotente naquela hora? Eu fiquei uma vez, uma ou duas, se bem que nem transo muito, então isso pode ser bastante. Mas sei lá, se quiser desabafar tô aqui pra te ouvir, não tô com pressa, até porque não tenho nada pra fazer hoje, tinha planejado comprar um livro, ler e tentar ficar feliz, mas daí acabei conversando demais com o senhor e me perdi nas horas. O que? A loja tá fechando, mas já? Nossa, vou-me embora então, mas amanhã volto, bem cedinho, depois do café, já que nem escolhi livro nenhum. Vou assistir tevê hoje, então, até pegar no sono, mas prometo colocar o despertador pras sete horas, daí venho logo pra cá. Vou sentir sua falta, boa noite e nos vemos amanha. Pensa em um livro bom pra me indicar, tá? Ah, mas tem que ter uma capa bem bonita.
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
Me relaciona
*que todos tenhamos um fds à altura de tudo que a gente precisa. beijos.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Retorno
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Paranóia
Lado de lá
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Fechadura
O meu, não foi aquele qualquer. O meu tinha que ser diferente. Mamãe diz que sou especial. Aham. Todos nós somos. E se todos nós somos, ninguém é. Ah, eu posso até enxergar aquela janela se abrindo e de dentro saindo aquela coisa estranha com asas de plástico que nem sabia voar. Eu percebi, percebi sim que elas não eram de verdade. Mas ninguém nunca acredita
sábado, 8 de agosto de 2009
Trilho
Eu não sei o que quero escrever mas sei que devo. Eu quero alcançar o vôo de todas as coisas que sobem ao alto pra alcançar aquilo que procuram por toda a eternidade. Eu sou só mais um, mas não sou o meu só mais um: eu sou aquele que, pra mim, é aquele que está lá. Eu quero viver, sabe. Quero sentir toda coisa e de tudo um pouco. Quero experimentar, satisfazer, ser, não ser, quero ser sim, quero ser um ser que não caia no esquecimento e desapareça para sempre. Quero ser aquele ser que está lá, estilhaçado, esperando alguém pra lembrar de novo, que mude tudo e nada. Quero nunca parar de brilhar e brilhar e reconhecer o brilho dentro de mim. Quero estar ciente de todas as mudanças que me apedrejam, quero estar ciente dos olhos que me olham e das mentes que co-existem comigo. Quero ser só mais eu, mas não só mais um eu, quero viver e poder contar meus devaneios através daquilo que lembrar de mim para sempre. Quero ser eterno dentro das cicatrizes. Porque eu sou só um, mas quero ser todos do mundo. Porque vivo e viverei na busca de um lugar inexistente pra colocar os meus sonhos em ordem e estabelecer um contato com aquilo que sempre sonhei. Jamais foi em vão. Jamais foi esquecido. Tudo é passageiro, mas eu quero ficar, assim, estilhaçado e espalhado por aí.