domingo, 21 de agosto de 2011

eles

Acho que é porque agora tudo é curto, ela disse. Ele replicou: acho que é só insatisfação eterna. Ela queria explicações, ele queria só ser presente. Que presente é esse que não chega nunca? Ela acha que não precisava ser tudo rápido, pós-pós. Ele disse que o melhor é relaxar. Não se sabe, nunca se sabe, nunca vão saber. É tudo hipótese, achismo, repetição. Não? Não negue, seja positivo, disse ela. Ele disse: cala essa boca. Se você fechar os olhos pode ver mais tranquilidade. Ela achava que sonhar é legal, ele não achava nada. E nunca achou; ela passou a não achar também. São só umas letras perdidas, dentre tantas que só acontecem. O cheiro do cigarro acalmava e irritava os pensamentos dela. Ele não acontecia, ficava. Um dia iria de ser o dia, ou ficariam sozinhos depois de dois meses. Não se pode ficar grávida no ápice dos seus trinta, melhor agora, sempre é melhor depois. Já era, todos os enfins, ao menos existe algo, efêmero, simples, suspeito. Algo que atravessa qualquer dose de desepero, porque existe, é simples. Ou sim. O problema é que sempre há um problema. Ela queria resolver, ele queria continuar. E os sonhos continuaram sonhos, a paciência acabou e o momento escapou dos que achavam ele inacabável.

Um comentário:

  1. Muito bom seus textos. Eu vou para o Rio hoje lançar o livro lá. Queria selecionar um texto daqui e apresentar seu blog depois. Além disto, colocar o link para divulgação nos parceiros do Literatura Cotidiana. Um grande abraço

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