sexta-feira, 29 de julho de 2011

noites

Uma garrafa de vinho no chão. um pacote de chocolates abertos, um maço de cigarros pela metade, um livro jogado, o computador com janelas abertas em todas as redes sociais, Beatles ao fundo, duas taças, uma pessoa. clichês. Dois telefones que não tocam. A amiga do andar de baixo esteve aqui, bebeu um pouco, viu alguns curtas comigo e quis logo dormir. Eu fiquei. O terceiro curta-metragem era sobre amizade, daquelas que surgem na infância e se tornam eternas até que cheguem ao fim. Isso fez com que eu lembrasse... lembrasse do que mesmo? Hm, lembrasse de gente da minha infância, da minha família reunida e das baboseiras que fazemos quando somos crianças. Mas eu logo percebi que cresci. E aqui. Agora: a janela aberta me faz ver prédios e o ventilador continua ligado mesmo sendo outono, só pelo barulho incrivelmente agradável que faz. Talvez lembre a infância e faça uma massagem simpática nas memórias inconscientes, vai saber. Eu mordo um quadrado de chocolate e deixo de lado porque também lembro que é preciso emagrecer, eternamente. Os chinelos do meu roommate chamam minha atenção porque são coloridos demais. Ele sai, sai sempre. Sabe se divertir mais, eu acho. Eu só reclamo. Hoje até chorei. Queria chorar mais vezes, pra falar a verdade, porque alivia tudo, descongestiona tudo, santo remédio. Queria dizer pras pessoas que dor às vezes também é bom. Que muita gente sofre porque quer sofrer, porque se sente melhor que sendo feliz. Vai entender? Eu entendo. Entendo e digito enquanto imagino o Caio Fernando escrevendo tudo à mão, ou numa máquina velha. Vejo ele do meu lado e digo: que bom que saiu dessa, companheiro. Não quero a morte. Não quero nada. Não sei de nada. Enxergo um caos lá fora que vai além do meu poder de saber o que vai acontecer. Será que pelos anos 90 tinham esses medos do fim também? Do caos, assim, sabe. Do ano 2000. Não, não sei, de novo, não sei. Repito muito as palavras. Preciso ler mais coisa importante, a internet acaba com meus neurônios. Muita bobagem. Muita coisa boa perdida entre as bobagens. Mas agora é mais difícil achar coisa boa que qualquer coisa, porque qualquer coisa não falta. Dor nas costas, deve ser de não fazer nada. Deve ser do fato de eu ser um filho bastardo da geração Y que gosta de tudo, quer tudo e não se mexe. Eu me mexo sim. Mas devia fazer mais. Mais. Mais. Ou menos e viver mais. Quem sabe. Queria criar e às vezes tenho a impressão de que tudo já foi criado. Será que também pensavam assim nos 90? Enquanto eu corria, criança, pelas ruas da minha cidade vazia eles deviam, sim, pensar assim. Cigarro. Tentei parar mas acho cigarro um demônio-poeta. Eu tento parar de vez em quando mas sempre volto. Acho que é porque tem coisas que eu gosto de sentir o gosto da primeira vez de novo. Não que o gosto do primeiro cigarro seja bom, mas o gosto do primeiro cigarro depois de uma tentativa frustrada de largar, esse sim, é ótimo. Fico sem idéias de como continuar e penso: a internet está cheia delas. Cheia de gente que quer escrever difícil, também. Odeio quem escreve difícil. Sempre achei que eles só querem escrever difícil para serem classificados como algo complexo e para serem decifrados por gente que sente prazer ao entender coisa difícil, mesmo que tudo aquilo ali pudesse ser descrito em uma frasesinha simples que qualquer um entenderia. Menos é mais; o complexo está no mais simples. A vida pode ser decifrada por qualquer um, a qualquer momento, sem importância de escolaridade-cor-profissão-sexualidade-religião-grau-de-importância. E daí se eu assassino o português? Todo mundo assassina ele todos os dias, e as línguas foram criadas para serem assassinadas. Quem vive se não para morrer um dia? Quem vive se não para ter crises existenciais o tempo todo e culpar alguém pela dor que sente por dentro? Ora, a culpa da dor é toda nossa. Sempre. Sempre, sempre, sempre. Nem pense numa desculpa, somos nós quem criamos a dor e damos importância pra ela. Sou eu quem alimento pra que ela cresça feliz como uma plantinha medíocre que logo vira um pé de feijão dentro de mim. E ela cresce feliz mesmo, porque pra dor existir ela tem que ser feliz; pra que algo possa crescer, essa coisa precisa ser feliz, mesmo que seja apenas dor. Eu devo ter mudado os tempos verbais umas dez vezes. Que se dane, escrevo pra ser entendido, e não julgado. Quem julga demais é porque está gritando para que alguém o julgue também; essas necessidades caóticas do ser humano me assustam. Não, nem assustam mais, foi só porque não encontrei outra palavra. Enquanto derramava vinho na taça pensei, quando alguém faz algo pra não mostrar a ninguém, faz com verdade. Eu não sei se algum dia alguém vai ler isso. Mas se você me conhece (ou conheceu, sei lá que ano pode ser agora), sorria. Se nunca me conheceu, sorria também. Sorrir nunca é demais. Eu sorri agora. No meu presente, no meu infinito aqui, agora, já. As lágrimas secam. Ame elas, mas ame mais ainda o sorriso. Ame tudo. Porque nada do que eu escrevi importa. O que importa é você, o seu sorriso e o seu amor. Mais uma taça.

*dos arquivos de Another Days

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